terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Primeiros dias, primeiras impressões

18/12/2008 - 5a feira

O Ary Rongel já tinha partido na noite anterior pra Frei pra buscar o pessoal do Arsenal. Logo de manhã parti com o chefe, a Juliana Vanir e o Newton (do projeto Criossolos) pra Yellow Point - ponto que leva esse nome por causa da coloração amarelada das rochas e sedimentos. Eles precisavam fazer umas leituras de CO2 no solo e trocar o hidróxido de sódio de um dos sites escolhidos para o experimento deles. Além disso, leram temperatura e coletaram algumas amostras de solo para verificar a umidade e carbono de biomassa microbiana.

Sim, tudo muito complexo! E olha que eu já estou simplificando bastante aqui! E isso é uma micro parte dos projetos que rolam por aqui. Tem mil coisas acontecendo e o povo já chegou com tudo, coletando, montando e arrumando os laboratórios, etc...sempre tem gente indo pra todo lado. Sem falar do GB, que tá sempre fazendo alguma coisa tbm!


Na volta, paramos num ponto turístico daqui, que é a Baleia. Na verdade, a estação foi montada no local de uma antiga estação baleeira inglesa que foi abandonada na década de 50 (dado este recebido extra oficialmente, o que significa que pode ter sido bem depois). Aliás, é uma história muito boa o jeito como a escolha do local foi feito (segundo os boatos, versão não oficial, lembrem-se bem).


Depois de anos de estudo sobre possível lugares para se estabelecer a estação, finalmente foi feita uma lista de 10 possíveis sites. Em 1984, quando veio o navio e toda a equipe de montagem, foram todos direto ao 1o colocado da lista. Porém, naquele ano havia ocorrido um intempérie e o local estava inacessível. Seguiram então para o 2o lugar da lista. O mesmo havia ocorrido. E assim a coisa seguiu até o 10 o colocado da lista.


Deparando com tal situação, restavam duas alternativas. Voltar ao Brasil ou achar um novo local. E foi então que alguém lembrou que tinha ouvido falar da Península Keller. Vieram pra cá e montaram a estação, que na época, era bem menor do que a de hoje.


Voltando à estação baleeira inglesa. Depois de abandonada, Jacques Cousteau passou por aqui em uma de suas andanças pelo mundo e aproveitou os ossos de baleia que estão espalhados por todos os lados por aqui e montou o esqueleto de uma baleia na praia, a qual permanece aqui até hoje.


Voltando do Yellow Point, rolou o almoço, que acontece todos os dias da semana às 13hs, no sábado às 14h e no domingo as 15h. Na verdade a rotina da estação é um pouco de todo mundo faz tudo. Só assim mesmo pra coisa funcionar. Afinal, numa comunidade tão pequena, se as pessoas não tiverem bom senso e senso de trabalho em equipe, não tem como dar certo. Então o que rola é o seguinte. Cada dia tem uma equipe diferente de serviço, ou de rancho, como dizem por aqui. É um dia puxado, porque começa as 5 de la matina, com o preparo do pão e do café da manhã. A equipe faz tudo, desde o café até o jantar, passando pelo preparo, arrumação e limpeza. Acaba lá pelas 21h. Geralmente é composta de umas 5 pessoas, além do Cuca e do auxiliar. A pior tarefa é o alho. O resto é moleza. No domingo o Cuca não trabalha e a equipe se vira pra cozinhar. Só que se livra do jantar...é cada um por si. Nada mal. Feriados funcionam como domingos.


Além do rancho, há um rodízio diário para a limpeza dos banheiros femininos e masculinos. Os encarregados ficam responsáveis também pela limpeza dos corredores e panos de chão. Aí no sábado é que vem o trampo de verdade. É o famoso faxinão!! Começa lá pelas 15:30h e vai até a hora que terminar. Aí é tudo! A estação toda mesmo, desde o garajão e ferrazão, até a academia e lavanderia. Só os camarotes, laboratórios e sala do alpinista. Estes são responsabilidade das equipes e pessoas envolvidas e devem ser feitas regularmente.


Depois do almoço fui com o Chefe até o Refúgio 2. Fomos de quadriciclo, já que era só uma viagem de reconhecimento. Passamos pelo Refugio 1, Punta Plaza, Ipanema e finalmente refugio 2. De lá fomos até a geleira (Demay glacier). Lindíssima, como todas as geleiras do mundo. Chega-se ao pé dela, maravilhosa mesmo! No caminho, alguns filhotes de elefante marinho, muitos pinguins (Adele, Antártico e Papua) e algumas skuas e trinta réis, os habitantes locais.


Voltando do passeio de reconhecimento, passei pra função barraca. Na verdade, o pessoal que veio do acampamento da Ilha Elefante - onde um pessoal fica acampado pra estudar os elefantes marinhos (por que será que se chama ilha Elefante?) - desmontou acampamento e acabei ficando com a função de limpar as barracas pro próximo grupo, função essa geralmente executada pelo pessoal da ESANTAR. Segundo o Baixo, eram só duas barracas. Na hora que eu vi, as duas tinham virado três. Mas não eram três barraquinhas quaisquer. Eram só uma jabuti, uma Arctic Chief - composta de 3 partes gigantes, e uma normal da North Face.


Já logo improvisei um varalzão e montei minha maloca. Parecia mesmo. Aquele bando de pano pendurado. Limpei a primeira barraca da North Face e uma parte da segunda e deixei ali secando. Trampo tranquilo, pendurar aquelas barracas sequinhas sozinha...baba...tão baba que travei as costas e aprendi a lição...peça ajuda ao GB. Ainda bem que foi só uma travadinha, ainda não deu pra parecer uma velhinha andando...


À noite, jantar, reunião e...ACADEMIA!! Sim, a estação tem uma academia gigante, cheia de equipos de musculação, três esteiras, duas bicicletas, um puta telão e um som bem alto! Deu pra correr, mas meus músculos provavelmente irão sumir, depois de um mês sem escalar...buááá...já dá até pra ver...


Sei que o Ary Rongel chegou à noite em frente à EACF, mas o vento estava forte (o bote ficava voando e batendo na água, só pra ter uma noção) e não conseguiram desembarcar o pessoal do Arsenal, e portanto, o pessoal acabou dormindo lá mesmo.


19/12/2008 - 6a feira


O pessoal do Ary Rongel finalmente conseguiu descer de manhã. Era meu dia de banheiro. Os comandantes O'Reilly e Marcello desceram também junto com o restante do pessoal do Arsenal. Eu, como alpinista, fui designada pra mostrar os arredores da estação. O tempo estava razoável então acabei indo com eles até a baleia e depois até Punta Plaza. Pra variar, várias fotos e muitos pinguins. Nada de elefantes marinhos dessa vez.


Depois do almoço rolou uma palestra com o Chefe, Sub e coordenadores de projetos. Dessa maneira, todos ficaram sabendo das rotinas da estação, do GB, dos grupos de pesquisa, etc...Também ficamos sabendo um pouco mais sobre cada projeto e a logística envolvida em cada um deles.


À noite, rolou o happy hour de boas vindas - o famoso happy hour do Sub, que faz questão de preparar tudo e tem seu cantinho garantido perto do computador - ai de quem tentar mudar a música! Excelente maneira de integrar a galera!


Mal sabíamos que o happy se tornaria uma tradição nessa 3a fase para alguns. Estava tão bom que nem vimos a noite passar. Aliás, que noite? Não escurece por aqui, então na hora que vimos já eram 6 de la matina e estávamos quase todos lá ainda.


20/12/2008 - sábado


Mais um bom dia, pra variar. Fui, alpinista que sou, acompanhando a Juliana Vanir e o Newton na saída deles. Eles precisavam fazer leituras em três pontos próximos ao refúgio dois (P3, P4 e P5). Achei péssima a idéia, eu, que odeio andar. Toda aquela coisa simples de hidróxido de sódio pra medir as concentrações de CO2, etc...Depois de três pontos, já estava craque e a partir daí passei a ajudar a Ju em todas as saídas.


Foi um dia regado de boas imagens e tempo razoavelmente bom, sem muitos ventos. Só não estava um céu azul, mas deu pro gasto. De novo fui até a geleira. Lá perdi meus óculos escuros. Ou eu achei que tivesse sido lá. Quando voltei pra me encontrar com a Ju e com o Newton, já muito triste com a minha perda e quase desesperada porque não tinha levado um par extra, só dá o Newton: "Não são eles ali, nadando??" Já estavam na água, por sorte perto o suficiente pra EU não ter que sair nadando atrás deles.

No caminho de volta, alguns ninhos de skuas e muitos musgos, gramíneas, e liquens, nos quais a gente não pode pisar de jeito nenhum. Eu como alpinista, sou responsável por orientar os pesquisadores, então tentem só imaginar: "Cuidado com os musgos...olha a gramínea...olha o mato..." Já virei até motivo de chacota!! Tudo é "Olha o musgo!"


De volta à estação, academia, só pra andar mais um pouquinho.


21/12/2008 - domingo

Acordando, saí pra passear, afinal hoje era dia de folga do povo e queria propiciar pelo menos uma caminhada até o Morro da Cruz para algumas pessoas. Foram comigo Luciana Banana, Luciano Marani, Gabriel Meteoro (primo) e Maysita. Na verdade, era somente uma incursão à Casinha de Cachorro, que é uma antena que fica no topo do morro, na base do Morro da Cruz, pra ver as condições do caminho. Pareceu tranquilo.


Quando estávamos lá em cima, apareceu um outro grupo, maior, com o ESG e com o Odair: Rafa, Gabriel, Bel, Carol, Ju Vanir, Luis, etc...Como não tínhamos permissão do chefe pra ir até o Morro da Cruz, resolvemos voltar pro almoço e fazer uma excursão depois do almoço até lá.


E foi o que fizemos. Almoçamos e depois voltamos. Foi a maior galera, acho que estávamos em 20 pessoas!! Fui eu, o Chefe e o ESG coordenando. Tinha um pessoal do Arsenal mais atrás, então segui com eles incentivando, principalmente o Jorginho e o Dalton. Dos pesquisadores foram: Luciana Banana, Carol, Gabriel Meteoro, Marquinho, Juliana Vanir, Nathalie, Viviane e Lucianos.


Conseguimos chegar no platô bem na base do cume, mas os últimos 15 metros estavam que era puro gelo e resolvemos não subir. Chegar ali já foi o máximo, todo mundo se divertiu. Virou guerra de "neve" (entre aspas pq a neve estava bem velhinha), boneco de "neve"; tiramos fotos do visual lá de cima (que infelizmente não estava dos melhores por causa das nuvens) e depois da bagunça toda começamos a descer.


Lógico que apesar do aviso de que seria uma caminhada de umas 5 a 6 horas (a idéia era subir o morro da cruz e descer pelo lado do refúgio 2, o que alongaria a caminhada), quando o chefe disse que estava voltando pra estação, metade do grupo quis ir de volta com ele.


E assim foi feito. Metade voltou e o resto seguiu comigo e com o ESG. Descemos pelo outro lado até um neveiro e seguimos em direção ao refúgio 2. Lá encontramos uma rampa excelente pra ski-bunda. Aí o povo se divertiu a valer mesmo. Claro que eu não poderia deixar de participar. E foi um pouco antes disso que minha bota dupla rachou no meio! Inacreditável! Rachou no meio!! Sem dó! Fui administrando a rachadura até chegar de volta à estação. Sem stress. A uns 100 metros da estação ela abriu o bico! Perdeu sola, palmilha, etc, voltei praticamente descalça naquelas pedras nada geladas.


Voltando à estação, jantarzinho básico e daí a luz se fez. Eu, que também NÃO gosto de fotografar, tive que sair pra fotografar com a galera (Thais,Emilia, Itamar, Maysa, Leandro Cabeça). Mas nem cheguei no meio do caminho até Punta Plaza, já tive que parar, porque a luz estava animal de linda. Fiquei lá fotografando até acabar a bateria da canon. No que eu estava indo até Punta Plaza, o povo tava voltando. Ainda bem que minha amiga Thais é linda e tinha trazido algumas cervejas Antárticas pra gente na mochila. Aliás, nada mais condizente, convenhamos...






Um comentário:

  1. Oi amiga! Pelo visto você está mal mesmo, só fazendo coisas que não gosta: caminhar, tirar fotos, tomar cerveja... Que chato!

    Acabei de voltar da Bahia. Estive com o Mico e a Ciça. Foi chato também, só coisas que não gosto: sol, praia, cerveja geladaça (não tanto quanto aí), amigos....

    Beijo.

    PS: O último parágrafo do dia 18 está truncado. Arruma aí!

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